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Jovem com síndrome rara mostra sua dedicação na preservação de abelhas sem ferrão


Por Redação / Agora no Vale Publicado 18/06/2022
 Tempo de leitura estimado: 00:00
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Filho único, Roberto Haas Utzig, 30 anos, conhece o valor do dinheiro apenas pela figura dos animais impressa sobre as notas. Sabe que o peixe vale mais que a onça e muito mais que a tartaruga. Se alguma das cédulas fosse marcada pela imagem de uma abelha, para ele, seria a mais valiosa de todas, independente do que poderia comprar com ela.

Morador de Arroio do Meio, ele encontrou na produção do mel, há 15 anos, a paixão para viver mesmo com um obstáculo que acomete uma a cada 10 mil pessoas: a síndrome de Williams. A desordem genética afeta a coordenação e o desenvolvimento cognitivo, entre outras deficiências.  

A primeira colmeia, acondicionada dentro de uma casinha de madeira, ele comprou de um vizinho, e naquele momento informou os pais que iria entrar no ramo da apicultura. Estava decidido. Mais de 40 caixinhas seguiram a primeira e se espalharam pelo entorno da casa da família (ao lado da associação esportiva Forquetense), na casa de tios e uma até no Paraguai, na propriedade de uma conhecida da família.

As colmeias mais próximas ele visita diariamente, cuidando para evitar parasitas como moscas e formigas. “Não é só ter a caixinha, tem que cuidar muito”, declara Roberto. O rótulo dos potes de mel que ele vende, desenhados e impressos com carinho pelos tios, indicam: Roberto é “O Rei das Abelhas”, em especial a da variedade Jataí, da Mandaçaia e da Tubuna, todas sem ferrão, algo vital para ele que sofre de alergia.

Muitas dessas colmeias ele mesmo coletou a partir de uma técnica que utiliza uma garrafa pet e uma isca para os enxames. Todas as informações ele capta e compartilha em um grupo de apicultores pelo WhatsApp, por meio de áudios e de imagens. Orgulha-se de dizer que, em uma dessas aventuras, coletou um ninho de Mandaçaias com uma armadilha perto de um lago, o que o fez ficar muito feliz pela raridade do achado.

É fácil entender que, para Roberto, o mel é apenas um detalhe. Seu mundo é o bem-estar das abelhas, e sabe da importância delas para o meio ambiente. Neste ano, não colheu o mel para manter o alimento para as abelhas, pois a seca e a consequente diminuição da floração afetou a produção, e a falta dele poderia colocar em risco as colmeias. “As pessoas precisam saber que se um dia não tiver mais abelhas muitas pessoas vão morrer de fome”, indicando que o trabalho dela na polinização é fundamental.

Paixão incentivada pela família e renda extra

Roberto sempre teve o incentivo de seus tios, e divide com o pai o apreço pela apicultura. O pai, Altírio Utzig, tem caixas de abelhas africanas na Linha 32, interior de Arroio do Meio, em uma área cedida por uma irmã. O filho acaba ajudando apenas na parte operacional, quando não há o contato com as abelhas, e faz questão de contribuir.

Altírio faz questão de mostrar sua admiração pelo trabalho do filho e do valor que ele dá às abelhas, mesmo com a limitação imposta pela síndrome. “Se eu pedir para ele ir na venda comprar um pacote de erva, é quase certo que vão me ligar de lá porque o Roberto esqueceu o que tinha que comprar. Mas se ele for para lá pra comprar 10 itens voltados para as colmeias dele, tenho certeza que vai se lembrar de cada um dos 10 itens”, declara Altírio, rindo junto com o filho sobre essa curiosidade.

Com o dinheiro da sua produção, Roberto já conseguiu comprar diversos equipamentos para a casa. Tudo novo para o seu quarto, como televisor, som e até condicionador de ar. “O dinheiro dele não gasta. Este ele coloca no banco, mas o a mãe ele gasta”, brinca a mãe, Clarice Haas Utzig.

Quem quiser valorizar o trabalho de Roberto e comprar o mel pode entrar em contato com Clarice, pelo telefone (51) 99596-1700. No momento há falta de mel das Jataí, mas há estoque do mel convencional.

O sorriso de Clarice durante a entrevista coloca emoção nas suas palavras

Um começo difícil e a realização

Clarice admira o mundo particular do filho, e o sorriso dela durante a entrevista coloca emoção nas suas palavras. Ela conta que o início da trajetória de Roberto foi tão difícil ao ponto de ela se perguntar o porquê isso estaria acontecendo com a família.  

Com um ano ele tinha apenas 3 quilos. “Foi uma luta muito difícil”, declara. Com força de vontade de todos da família, encontrou-se o caminho. O tratamento que chegou a ser semanal no Hospital de Clínicas, hoje é anual. “Foi uma luta bem complicada. Mas nunca mais vou perguntar ‘por que eu’. Ele é meu amigo e meu companheiro. Ele é meu tudo.”