Vamos falar de diarréia….


A diarreia pode ser definida pela ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou líquidas nas últimas 24 horas. A diminuição da consistência habitual das fezes é um dos parâmetros mais considerados. Na diarreia aguda ocorre desequilíbrio entre a absorção e a secreção de líquidos e eletrólitos e é um quadro autolimitado.
De acordo com a OMS, a doença diarreica pode ser classificada em três categorias
•Diarreia aguda aquosa: diarreia que pode durar até 14 dias e determina perda de grande volume de fluidos e pode causar desidratação. Pode ser causada por bactérias e vírus, na maioria dos casos. A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a alimentação não é fornecida de forma adequada e se episódios sucessivos acontecem.
•Diarreia aguda com sangue (disenteria): é caracterizada pela presença de sangue nas fezes. Representa lesão na mucosa intestinal. Pode associar-se com infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação. Bactérias do gênero Shigella são as principais causadoras de disenteria.
•Diarreia persistente: quando a diarreia aguda se estende por 14 dias ou mais. Pode provocar desnutrição e desidratação. Pacientes que evoluem para diarreia persistente constituem um grupo com alto risco de complicações e elevada letalidade.
Assim, doença diarreica aguda pode ser entendida como um episódio diarreico com as seguintes características: início abrupto, etiologia presumivelmente infecciosa, potencialmente autolimitado, com duração inferior a 14 dias, aumento no volume e/ou na frequência de evacuações com consequente aumento das perdas de água e eletrólitos17. Apesar da definição de diarreia aguda considerar o limite máximo de duração de 14 dias, a maioria dos casos resolve- -se em até 7 dias. A doença diarreica na maior parte das vezes representa uma infecção do tubo digestivo por vírus, bactérias ou protozoários e tem evolução autolimitada, mas pode ter consequências graves como desidratação, desnutrição energético-proteica e óbito. Nem sempre é possível identificar o agente causador do episódio diarreico.
Os seguintes agentes infecciosos são os que causam a maior parte dos quadros da diarreia aguda:
- Vírus – rotavírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus (em especial o norovírus) e astrovírus.
- Bactérias – E. coli enteropatogênica clássica, E. coli enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa18, Aeromonas, Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae, Yersinia
Parasitos – Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium, Isosopora - Fungos – Candida albicans
Eventualmente outras causas podem iniciar o quadro como diarreia tais como: alergia ao leite de vaca, deficiência de lactase, apendicite aguda, uso de laxantes e antibióticos, intoxicação por metais pesados.
A invaginação intestinal tem que ser considerada no diagnóstico diferencial da disenteria aguda, principalmente, no lactente.
A investigação da etiologia da diarreia aguda não é obrigatória em todos os casos. Deve ser realizada nos casos graves e nos pacientes hospitalizados. Deve ser lembrado que os laboratórios, em geral, não dispõem de recursos para diagnosticar todas as bactérias e vírus causadores de diarreia aguda. Novos métodos diagnósticos utilizando a técnica de PCR multiplex estão em desenvolvimento e têm potencial para proporcionar, no futuro, o diagnóstico etiológico com maior rapidez e abrangência.
A história e o exame físico são indispensáveis para uma conduta adequada. Não se deve esquecer que alguns pacientes têm maior risco de complicações, tais como: idade inferior a dois meses; doença de base grave como o diabete melito, a insuficiência renal ou hepática e outras doenças crônicas; presença de vômitos persistentes; perdas diarreicas volumosas e frequentes (mais de oito episódios diários) e a percepção dos pais de que há sinais de desidratação.
O tratamento da diarréia vai depender da anamnese e exame físico. A principal parte é evitar a desidratação, deve se oferecer mais líquidos para o paciente. E em casos de desidratação grave ou não aceitação de líquidos os mesmos devem ser feitos endovenosos. E demais medicações serão ofertadas conforme os sintomas.
A manutenção da alimentação com oferta energética apropriada é um dos pilares do tratamento. Todas as diretrizes são unânimes que o aleitamento materno deve ser mantido e incentivado durante o episódio diarreico.
Antibióticos são recomendados para pacientes com disenteria, considerando a possibilidade de Shigella.
Atenção especial deve ser dada ao primeiro trimestre de vida, para crianças com desnutrição energético-proteica, imunossuprimidos ou com diarreia persistente e quanto à possibilidade de infecções sistêmicas, que requerem o emprego de antibióticos apropriados.
A suplementação com zinco vem sendo preconizada para diminuir a duração do episódio diarreico e evitar recorrências e a vitamina A deve ser recomendada nas áreas onde corre esta hipovitaminose. Determinados probióticos e a racecadotrila podem ser usados como coadjuvantes. A loperamida continua sendo totalmente contraindicada em pediatria.
Sempre que a família estiver em duvida sobre a evolução da diarreia deve levar a criança para consultar.
Caroline Krein
Pediatra
CREMERS 39341