Será que meu filho é constipado?


Constipação é definida como demora ou dificuldade de defecação. A frequência e consistência das fezes consideradas normais variam de acordo com a idade e dieta das crianças; há também uma variação considerável entre uma criança e outra.
A constipação intestinal pode ser aguda ou crônica.
A aguda pode ser identificada em situações associadas a mudanças de hábito alimentar, ao uso de drogas, principalmente as neurolépticas, à redução da atividade física, a doença febril e diminuição da ingestão de líquidos
e de alimentos ou até mesmo a mudanças de ambiente, como acontece em viagens. Após a cura da doença ou dos fatores desencadeantes, a constipação se resolve espontaneamente.
A constipação intestinal funcional tem como manifestações principais a eliminação de fezes duras com dor ou dificuldade.
As fezes duras podem variar do formato de pequenas bolinhas até fezes grossas e ressecadas com rachaduras que, às vezes, entopem o vaso sanitário.
Com o passar do tempo, a constipação intestinal pode ir se agravando e aparecer outras manifestações:
-Comportamento de retenção: atitudes que a crianças assume para impedir a evacuação. Relacionada com o medo que a crianças tem de eliminar as fezes que constitui uma experiência dolorosa.
-Impactação fecal ou fecaloma: acumulo de fezes endurecidas no reto e cólon que são as partes finais do tubo digestivo. Pode ser reconhecida pela presença de formações endurecidas que podem ser percebidas passando a mão no abdome. Deve sempre ser avaliada pelo médico.
-Perda de fezes na roupa em crianças que já evacuavam no penico ou privada. É chamada incontinência fecal retentiva (relacionada à retenção das fezes endurecidas no reto e cólon). As crianças podem ser vítimas de “bullying” no ambiente familiar e na escola. Pode se assoar com comprometimento da qualidade de vida. É conhecida, também por escape fecal ou “soiling”.
-Outras manifestações clínicas podem ocorrer em parte das crianças com constipação intestinal funcional como dor abdominal, problemas urinários (infecção urinária, incontinência urinária, enurese).
A constipação pode ter início em qualquer idade. Alguns marcos são considerados importantes: interrupção do aleitamento natural exclusivo, introdução de novos alimentos além do leite, época do treinamento esfincteriano. Vale lembrar que frequentemente o histórico de constipação intestinal funcional é muito longo. Várias crianças chegam para avaliação médica com idade de 5 ou 6 anos, com histórico de início no primeiro ano de vida.
Se houver incontinência fecal por retenção de fezes (fecaloma) o primeiro passo é tomar medidas que assegurem a eliminação de todas as fezes retidas e impctadas. O médico irá indicar qual o melhor procedimento.
Na sequência, deve ser prescrito medicamento laxante, que proporcione evacuações de fezes com consistência normal, sem dor ou esforço. Espera-se interromper o círculo vicioso mantido pela dor, comportamento de retenção e acúmulo de fezes no interior do intestino.
O tratamento pode se estender por períodos variáveis e a recorrência de incontinência fecal, em geral, indica falta de adesão ao tratamento ou sua interrupção prematura.
Na dieta, é importante assegurar o consumo de alimentos fontes de fibra alimentar e ingestão de volume de líquidos apropriado. Nos casos graves de constipação intestinal, estas medidas não são capazes de proporcionar recuperação clínica. No entanto, devem ser consideradas como parte do tratamento de manutenção como um hábito saudável de vida que deve ser incorporado de maneira definitiva.
A interrupção da administração do laxante deve ser feita de forma gradativa. Em geral, são necessários pelo menos 2 meses, mas muitos pacientes necessitam tratamento por períodos muito mais prolongados. É importante desmistificar riscos atribuídos aos laxantes. Os que são usados mais frequentemente pelo pediatra, não costumam trazer problemas nos tratamentos de longo prazo. Muitas vezes ocorrem recorrências quando o laxante é suspenso.
A crianças com constipação intestinal funcional deve ser reeducada para novos hábitos que devem ser mantidos por toda a vida, ou seja, adotar um estilo de vida saudável, incluindo dieta rica em fibras alimentares, consumo de volumes apropriados de líquidos sem energia (água sim, refrigerantes e outros produtos com energia, não) e evitar o sedentarismo, implementando um programa de atividade física compatível com sua idade.
Lembrar sempre que aleitamento natural e a introdução alimentar saudável nos primeiros meses de vida se associa com menor risco de constipação intestinal funcional.
Se está na duvida consulte com o seu pediatra.
Conteúdo escrito pela pediatra Caroline Krein de Lajeado