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Quais os motivos do aumento da incidência do Transtorno do Espectro Autista?


Por Redação / Agora Publicado 12/03/2024
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O Transtorno do Espectro Austista – TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que manifesta os seus primeiros sinais e sintomas durante a primeira infância, com causas multifatoriais que envolvem fatores genéticos, de riscos gestacionais e ambientais afetando aspectos funcionais do indivíduo (VOLKMAR; WIESNER, 2018).

O TEA é caracterizado por déficits clinicamente significativos e persistentes, definidos como uma tríade: desenvolvimento atípico na interação social recíproca; comunicação atípica; e, comportamentos repetitivos e estereotipados ( APA, 2014; LANDA, 2007).

O TEA apresenta uma prevalência (quantidade de casos do transtorno em dado momento) relativamente alta na população, sendo maior para o sexo masculino. Entretanto, não há diferença de etnia, cultura, grupo socioeconômico ou outra característica.

Dados estatísticos norte-americanos do CDC (Central of Disease Control) mostram que a prevalência do TEA aumentou de 1 em cada 150 crianças em 2000-2002, para 1 em 68 crianças durante 2010-2012 e 1 em 59 crianças em 2014, e nos dados de 2020, alcançou-se marca de 1 em cada 54 crianças. Segundo Maenner et al. (2023), estima-se que uma a cada 36 crianças seja diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista. O número representa um aumento de 22% em relação à pesquisa publicada em 2021, cuja proporção era de uma a cada 44 crianças (MAENNER et al., 2021). Em uma transposição dessa prevalência para o Brasil, teríamos aproximadamente cerca de 4,84 milhões de pessoas diagnosticadas com TEA. Porém, ainda não temos números oficiais de prevalência de autismo no Brasil (BARRETO et al., 2022).

Isso significa que a incidência do TEA mais do que duplicou neste período de 2000 a 2023. Não é de admirar que as manchetes falam de uma “epidemia” de autismo! Mas há pelo menos 4 motivos para explicar este aumento de casos do que a hipótese de epidemia, afinal o TEA sequer é uma doença.

Quais os principais motivos:

Forma de diagnóstico
O primeiro motivo é a forma de diagnóstico. Houve uma mudança e uma melhora nos critérios de diagnóstico, o que determinou que não somente casos graves e moderados, mas também os leves pudessem ser diagnosticados, principalmente com a adoção dos critérios do DSM 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5 Edição).

Maior número de profissionais especializados
O segundo, um maior número de profissionais de saúde e educação especializados, o que facilita o melhor encaminhamento das suspeitas do transtorno, ou ao menos a identificação de que o desenvolvimento de algumas crianças estejam fora do esperado para a idade.

Melhor difusão dos conceitos
O terceiro, bastante alinhado ao segundo, é a melhor difusão dos conceitos adequados do TEA – não é uma doença, não tem cura, possui critérios definidos de forma clínica e observacional, de diagnóstico multidisciplinar centrado na avaliação médica, e que necessita tratamento precoce; este está sendo impulsionado através das mídias, dos trabalhos de ONGs, de grupos de pais e mães – e através de ações como o dia mundial da Conscientização do Autismo (dia 02 de Abril). E este artigo também possui este objetivo!

Pesquisa e apoio
E o quarto, maiores recursos apoiando o TEA, na forma de pesquisa, na formação de centros especializados em atendimento de Autismo, e na forma de uma lei federal, a Lei Berenice Piana, que garante muitos dos direitos que os pais dos autistas tanto buscam e necessitam alcançar para seus filhos.

Assim, podemos ver que a prevalência aumentou e continua aumentando, pois cada vez se compreende melhor este transtorno, os casos de Autismo são melhor identificados e principalmente recebem melhor apoio; mas ainda há muito a fazer!

Vitoria Santana
Fonoaudióloga
Especialista em Linguagem e Neuropsicologia pelo CFFA
Especializada em Análise do Comportamento Aplicada – ABA e Neurociência e Aprendizagem.
Mestra em Ciências Médicas
51 995140260
Instagram: fonovitoriasantana


Referências:
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA – APA. Transtornos do neurodesenvolvimento: transtorno do espectro autista. In: ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA – APA. DSM 5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014. Seção II, p. 50-59.

BARRETO, Thaís Barbosa et al. Conhecimentos dos enfermeiros da Estratégia Saúde da Família acerca do Transtorno do Espectro Autista. Tópicos em Ciências da Saúde – Volume 27, Belo Horizonte, v. 27, n. 1, p. 63-73, 2022. Editora Poisson. http://dx.doi.org/10.36229/978-65-5866-155-9.cap.08.

LANDA, Rebecca. Early communication development and intervention for children with autism. Mental Retardation And Developmental Disabilities Research Reviews, [S.L.], v. 13, n. 1, p. 16-25, 2007. Wiley. http://dx.doi.org/10.1002/mrdd.20134.

MAENNER, Matthew J. et al. Prevalence and Characteristics of Autism Spectrum Disorder Among Children Aged 8 Years — Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, United States, 2018. Mmwr. Surveillance Summaries, [S.L.], v. 70, n. 11, p. 1-16, 3 dez. 2021. Centers for Disease Control MMWR Office. http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.ss7011a1. Disponível em: https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/70/ss/ss7011a1.htm?s_cid=ss7011a1_w. Acesso em: 03 mar. 2024.

MAENNER, Matthew J. et al. Prevalence and Characteristics of Autism Spectrum Disorder Among Children Aged 8 Years — Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, United States, 2020. Mmwr. Surveillance Summaries, [S.L.], v. 72, n. 2, p. 1-14, 24 mar. 2023. Centers for Disease Control MMWR Office. http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.ss7202a1. Disponível em: https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/72/ss/ss7202a1.htm?s_cid=ss7202a1_w#suggestedcitation. Acesso em: 03 mar. 2024.

VOLKMAR, Fred R.; WIESNER, Lisa A.. Autismo: guia essencial para compreensão e tratamento. S.L: Artmed, 2018.