Paternidade em falta: as repercussões emocionais e sociais da ausência


À primeira vista, pode parecer que ter um filho é o que faz uma pessoa se tornar pai ou mãe, e há quem defenda que apenas por ter procriado a pessoa merece o título parental.
Esses discursos enraizados de que a família de origem deve ser aceita e tolerada a qualquer custo, fazem com que as pessoas tenham dificuldades e prejuízos em reconhecer seus próprios limites e o que é verdadeiramente saudável nas relações.
Procriar é um ato biológico, mas ser pai é uma escolha que se manifesta na presença constante e no envolvimento ativo na vida dos filhos. Muitos homens que hoje se afastam das responsabilidades paternas são, na verdade, vítimas de uma paternidade ausente em suas próprias vidas. Cresceram sem uma figura paterna presente, sem o apoio, o carinho e o exemplo necessários. Sem essas referências, acabam repetindo o ciclo de abandono que viveram, perpetuando um padrão que parece se enraizar de geração em geração.
Esse ciclo transgeracional é cruel e devastador. Ele perpetua a dor, a solidão e a falta de referências, criando gerações de crianças que crescem sem o suporte emocional e o amor que tanto precisam. Estas crianças, por sua vez, podem carregar essas feridas para a vida adulta, replicando o abandono que sofreram, e assim o ciclo continua.
Contudo, essa repetição não é inevitável. Muitos homens, conscientes dos danos que a ausência paterna causou em suas vidas, escolhem conscientemente ser diferentes. Eles decidem oferecer aos seus filhos o carinho e a presença que lhes foram negados, rompendo com o ciclo de abandono e criando uma nova realidade para a próxima geração.
No entanto, a falta de compromisso de muitos pais se manifesta não apenas na ausência física, mas também na negligência emocional e financeira. Existem aqueles que acreditam que pagar uma pensão, muitas vezes insuficiente, é o bastante para cumprir seu papel de pai. Como se a paternidade pudesse ser reduzida a uma transferência bancária. Ser pai é muito mais do que cumprir obrigações legais; é ser um modelo de integridade, segurança e amor.
É essencial que todos nós, façamos uma reflexão profunda, para romper com a ideia de que a paternidade é opcional, ou que a ausência é algo natural. Além disso, é fundamental que apoiemos as mulheres e crianças que são vítimas desse abandono, reconhecendo sua força e resiliência, mas também lutando para que essa realidade mude.
Se nesse dia dos pais, você não tem o seu pai para abraçar, porque ele não foi presente na sua vida, porque ele já partiu, porque você não tem uma boa relação com ele, saiba que a culpa não é sua e que você merece receber amor e valorização.
Aos pais que realmente exercem seu papel, sendo ou não biológicos, um feliz dia!
Por Maria Júlia Lohmann Wagner
Psicóloga
@maju.psi

