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O Puerpério: a travessia silenciosa de uma mulher que acaba de nascer também


Por Redação / Agora Publicado 08/04/2025
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O puerpério é o período que se inicia logo após o parto e, embora biologicamente seja definido como cerca de 40 a 45 dias necessários para que o corpo da mulher retorne ao seu estado pré-gestacional, na prática ele é muito mais extenso — física, emocional e simbolicamente.

É uma fase de profundas transformações, muitas vezes silenciosas e invisíveis, em que a mulher precisa se reinventar para dar conta não apenas da chegada de um bebê, mas do nascimento de uma nova identidade.

É no puerpério que a mulher deixa de ser apenas filha, profissional, parceira, amiga… para se tornar também mãe. E esse “também” pode ocupar tudo. A rotina muda radicalmente, os dias e as noites se misturam, o corpo ainda dói e sangra, os hormônios estão em reconfiguração e as emoções oscilam como uma montanha-russa.

O choro vem sem aviso, o medo ganha espaço, a insegurança aparece com frequência. Há uma imensa vulnerabilidade emocional, ainda que a mulher seja vista socialmente como forte e guerreira.

O corpo, antes gestante, agora se vê entre a exaustão e a demanda incessante. Amamentar, se for possível, exige entrega física e mental. Dormir, comer, tomar banho — tarefas antes simples — se tornam conquistas. A mulher se vê num lugar onde o tempo para si praticamente desaparece, e a sensação de solidão pode ser avassaladora, mesmo com o bebê nos braços.

Mas o puerpério não é só dor. Ele também é potência. É no meio desse misto emocional que muitas mulheres acessam uma força que desconheciam. É onde vínculos profundos começam a ser construídos. É onde o amor, mesmo cansado, aprende novos caminhos para se expressar.

E também é nesse espaço que podem surgir questões profundas sobre a própria história: como fui cuidada? De que forma quero maternar? Que mãe estou me tornando?

Por isso, o puerpério precisa ser acolhido com mais cuidado e mais escuta. Ele não é um “detalhe” da maternidade. É uma fase sensível, estruturante e que pede presença — da rede de apoio, das políticas públicas, da sociedade e, principalmente, da própria mulher consigo mesma.

Dizer “vai passar” é pouco. O que uma mulher puérpera precisa ouvir é: Você não está sozinha. O que você sente é legítimo. Você também merece cuidado. E mais do que ouvir: ela precisa sentir que pode contar com alguém quando o cansaço pesar, quando o peito doer, quando o medo for maior que a coragem.

Que possamos falar mais sobre o puerpério não como uma etapa a ser vencida, mas como um processo a ser vivido com dignidade, consciência e afeto.

Por Maria Júlia Lohmann Wagner
Psicóloga
@maju.psi

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