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Luto gestacional, uma perda a ser compreendida


Por Redação / Agora Publicado 02/11/2022
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A proximidade da morte em qualquer momento do ciclo vital expõe a fragilidade humana.
Se falar de morte já é difícil, falar de morte em um momento que é para ser de vida, desenvolvimento e nascimento se torna ainda mais complexo.

O texto que escrevo hoje parte de três lugares da minha existência: o de psicóloga que reconhece a importância e necessidade do apoio para se viver um processo de luto; o de mulher, que sente na pele e sabe quão vulnerável estão os nossos corpos, que sofrem e toleram várias formas de violência (e que atualmente estamos aprendendo a nomear);  e falo do lugar de mãe, que percebe a intensidade com que somos capazes de amar os filhos e de sofrer por uma perda, independente do tempo em que esse vínculo tenha se formado.

Vivi a minha segunda e tão planejada gestação por 11 semanas, lembro da felicidade da descoberta, da alegria compartilhada e da expectativa de todos, especialmente da minha filha que se tornaria a irmã mais velha.

Lembro também do dia que esse sonho não seria mais realidade, o dia que perdemos nosso segundo filho (a), dia dos pais de agosto de 2021.

Certamente foi um dos dias mais difíceis da minha vida, enquanto ouvia o choro de bebês nascendo, o meu choro era de uma mãe que estava perdendo.

Por experiência pessoal e profissional, se é para fazer a diferença na vida de uma mulher ou casal que está vivenciando esse luto, legitime a sua experiência. Evite frases que minimizem ou invalidem o momento:

“Logo você engravida novamente!”
“Pelo menos você já tem outro filho”
“Melhor assim, né? Provavelmente tinha algum problema genético”
“Deus sabe o que faz”

Seja assertivo: “Eu entendo e acolho a sua dor e estou aqui para te ajudar”, isso é suficiente.

A dor da perda de um filho não é anulada pelo nascimento de outro filho, afinal de contas, filhos são insubstituíveis.

Sem receber uma estrutura empática para lidar com esse sentimento de tristeza e pesar, as mulheres e casais que sofrem uma perda gestacional tendem a ter a sua dor subestimada e diminuída, fazendo com que seu luto seja silenciado.

O luto é uma reação natural e esperada diante de um vínculo que foi rompido, quando ocorre a  perda gestacional, esse luto não depende do tempo que durou a gestação. Para elaborar essa dor psíquica, é necessário que ela seja dita, vivida, sentida, refletida, mas nunca negada.

Se hoje, você estiver passando por alguma perda, acolha seus sentimentos e compreenda que é natural sofrer em momentos como esse. E caso esteja sendo difícil de elaborar, busque ajuda, você não precisa passar por dificuldades sozinha.

Com carinho,

por Maria Júlia Lohmann Wagner
Psicóloga
Especialista em terapia cognitivo-comportamental e terapia do esquema
Instagram: @maju.psi