Da inexperiência à responsabilidade: ninguém nasce sabendo ser mãe, nem pai


A desigualdade nas expectativas sociais relativas aos papéis de pais e mães reflete uma profunda discrepância cultural e histórica que persiste em nossa sociedade.
Enquanto os homens são frequentemente isentos de críticas severas por falta de envolvimento nas responsabilidades parentais, as mulheres enfrentam um julgamento rigoroso e uma cobrança intensa para desempenhar a maternidade de forma “instintiva” e “perfeita”.
A narrativa em torno do instinto materno é cercada de mitos e expectativas culturais que colocam um peso desproporcional sobre as mulheres, enquanto simultaneamente minimizam o papel dos homens na criação dos filhos.
A noção de instinto materno, frequentemente percebida como uma capacidade inata das mulheres para cuidar e nutrir seus filhos, carrega uma profunda complexidade e, muitas vezes, uma injustiça social enraizada.
É fundamental reconhecer que a maternidade, ao contrário do que sugere a romantização cultural, não é uma jornada repleta apenas de momentos felizes e instintivos de cuidado e proteção.
Na realidade, ser mãe é uma experiência que envolve aprendizado, desafios e, acima de tudo, uma construção diária. A pressão exercida sobre as mulheres para se adequarem imediatamente aos papéis de mães que sabem cuidar, é não apenas irreal, mas também prejudicial.
Essa expectativa ignora os desafios emocionais, físicos e psicológicos que acompanham a maternidade. É essencial desconstruir a ideia de que as mães devem saber instintivamente como cuidar de seus filhos, lidar com todas as adversidades sem hesitação e sem ajuda, e manter-se emocionalmente inabaláveis durante o processo.
A sobrecarga materna reflete a realidade de muitas mulheres que, ao tentarem corresponder a essas expectativas inatingíveis, acabam por se sentir esgotadas, isoladas e, em muitos casos, adoecem mentalmente.
A maternidade que adoece não é um resultado inevitável, mas sim o produto de uma cultura que falha em reconhecer as necessidades emocionais e práticas das mães.
É crucial promover uma visão da maternidade que inclua espaço para vulnerabilidade, incerteza e aprendizado. Reconhecer que ser mãe é um processo contínuo de crescimento, mudanças e adaptações pode ajudar a aliviar a pressão para a perfeição.
É necessário redefinir a maternidade como uma experiência compartilhada, rica em diversidade e desafios, mas também em apoio e comunidade. Ao perpetuar a ideia de que é aceitável que os pais sejam menos envolvidos na criação dos filhos, a sociedade não apenas sobrecarrega as mães, mas também priva os pais da experiência completa e enriquecedora que é participar ativamente da vida de seus filhos.
A paternidade ativa traz benefícios significativos para o desenvolvimento emocional e psicológico das crianças, além de promover uma parceria mais equilibrada entre os pais.
E embora ninguém nasça sabendo ser mãe, nem pai, é responsabilidade diária aprender. Com qual imagem que seus filhos lembrarão de você?
por Maria Júlia Lohmann Wagner
Psicóloga
Instagram: @maju.psi

