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Além da dor: como acolher o amor e o medo na gestação de um bebê arco-íris


Por Redação / Agora Publicado 12/11/2024
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A perda de um filho é uma das vivências mais dolorosas e difíceis de enfrentar, especialmente quando ocorre ainda no período gestacional ou perinatal. Essa perda frequentemente envolve um vazio e uma dor profundos, que nem sempre recebem o apoio empático que merecem.

Muitas vezes, tanto profissionais quanto o círculo social das famílias têm dificuldade em compreender e acolher plenamente o luto associado a essa experiência, o que pode resultar em um sofrimento silencioso e isolado.

Na nossa cultura, ainda existe uma resistência em reconhecer a dimensão dessa perda e, consequentemente, uma dificuldade em oferecer suporte adequado. Há uma tendência de considerar essa dor menos legítima do que outras formas de luto, o que leva à falsa ideia de que a dor pode ser superada com uma nova tentativa de gestação, minimizando o luto não processado.

No entanto, essa percepção é prejudicial e negligencia a realidade emocional das famílias, uma vez que filhos não são substituíveis.

Quando, após essa perda, uma nova gestação acontece, essa experiência traz consigo uma mistura complexa de sentimentos — entre eles esperança, amor, temor, expectativa, ansiedade, medo e culpa. Esses bebês, carinhosamente chamados de “bebês arco-íris”, são as crianças que nascem de mães que já passaram por uma perda gestacional ou perinatal.

Assim como o arco-íris após a tempestade, esses bebês representam uma luz e uma nova perspectiva, mas também demandam que os pais enfrentem as cicatrizes e fragilidades deixadas pela experiência anterior.

A nova gestação é única e merece ser vivida em sua completude, mas, ao mesmo tempo, é natural que os pais se sintam inseguros e que a dor passada ainda ecoe.

É importante compreender que as experiências negativas, traumáticas e dolorosas não desaparecem simplesmente porque uma nova oportunidade se apresenta. Elas podem impactar as futuras vivências de forma sutil, ou, em alguns casos, de maneira mais intensa, influenciando as percepções, sentimentos e até mesmo o comportamento da mãe.

Esse processo pode envolver um estado de hipervigilância: diante do medo de uma nova perda, é comum que a mãe fique mais atenta a cada sinal, comparando continuamente os marcos de desenvolvimento da gestação atual com a anterior. Isso pode gerar um ciclo de ansiedade, onde o desejo de proteção se traduz em um impulso constante por realizar exames, monitorar batimentos cardíacos ou obter confirmações frequentes de que está tudo bem.

Para que essa gestação seja vivida de forma mais saudável, é fundamental que haja acolhimento dos sentimentos envolvidos. O acompanhamento psicológico, pode ser um apoio essencial nesse momento, ajudando a mãe (e o pai, se for o caso) a processar o luto passado enquanto abraça a nova vida que está por vir. Esse acompanhamento permite que os pais compreendam que a nova gestação traz seus próprios desafios, diferentes dos enfrentados anteriormente. Também pode ajudar a mãe a equilibrar a necessidade de segurança com a possibilidade de viver plenamente a experiência presente, sem ser dominada pelo medo.

Esse é um processo de reconstrução delicado e sensível, onde a resiliência é cultivada pouco a pouco. Aceitar que a experiência atual é única e que cada filho ocupa um lugar insubstituível permite que a mãe se conecte ao bebê arco-íris de uma forma mais presente e amorosa, integrando a dor passada sem permitir que ela sufoque o que está nascendo agora. Assim, cada momento desse novo processo, por mais desafiador que seja, é marcado por um profundo respeito ao luto, à esperança e ao amor que sustenta essa nova vida.

Por Maria Júlia Lohmann Wagner
Psicóloga
@maju.psi

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